terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Capitulo 6 - A lenda de Natasha



Há muito tempo atrás, surgiu por aqui no hotel uma garota muito incomum. Tinha um corpo magro, porém bonito. Seu visual era considerado exótico. Nem sempre usava roupas curtas ou se esforçava para mostar seu corpo. Tinha um cabelo pintado de verde e uma tatuagem no pescoço. Alguns diziam se tratar de um falcão vermelho. Quem a conheceu de perto, como eu, sabe que ela não precisava realmente do trabalho. Estava ali pela curtição. Fugiu de casa, usou grande parte do dinheiro que ganhou de mesada dos pais ricos para fazer algumas mudanças no corpo. Infelizmente, não tenho a história completa dela pra te contar, amiga, pois a conheci logo pouco antes dela ir embora.
- Como assim ? Pergunta uma Rochele cada vez mais curiosa.
- Você acha que todas nós ficamos aqui para sempre?
- Não sei.
- Pois então, pense bem. Algumas conseguem uma nova chance e são felizes.
- É o caso dela?
- Não se sabe. Cada pessoa que a conheceu diz algo diferente sobre o tempo dela por aqui. De certo modo, todas temos alguma história sobre ela. É como se uma parte dela vivesse dentro de nós, entende? Infelizmente, nem todas são verdadeiras, eu acho. Já ouvi dizer, por exemplo, que ela se drogava.
- Sério????
- Sim. Ela adorava dizer em alto e bom som: ``A vida é bela e o paraíso um comprimido``
- Nossa, que loucura. E qual era o nome dela?
- Natasha Sempere.
- Uau, diferente até no nome.
- Era uma figura mesmo. Mesmo com todo aquele jeito rebelde sem causa, ela tinha um lado que
poucas conheciam: adorava livros. Lia Dostoiévski, William Shakespeare, Machado de Assis, Carlos
Drummond de Andrade, entre outros.
- Nossa, quanta coisa. Mal conheço metade deles. E como ela arranjava tempo para ler tudo isso?
- Ah, apenas um detalhe.
- Como assim?
- Ela fazia seu próprio horário. Não aceitava que alguém impussesse regras sobre como deveria se comportar na cama ou com os clientes. Seu único lema era a liberdade e nada mais.
- Isso é bem difícil de acreditar.
- Qual parte?
- Que tal tudo, hein, bonita? Como é possível alguém entrar nisso por vontade própria e ainda sentir prazer? Fazer o que quiser e ir embora apenas porque deu vontade.
- Acredite se quiser.

Enfim, o fato dela ser considerada uma lenda entre as garotas do Hotel Central é porque ela se apaixonou por alguém e, por isso, foi embora. Seu nome era Daniel, um dono de um sebo muito conhecido na região. Tinha olhos castanhos, cabelos curtos e não era muito alto. Algumas garotas caçoavam dele pelas costas imaginando o quão fraco ele deveria ser na cama. Mas o que ninguém sabia era da amizade entre os dois. Foi através dele que Natasha reacendeu sua paixão por literatura como nunca antes na história de sua jovem vida. E Entre uma transa e outra, ele sempre deixava uma edição bem antiga de algum autor conhecido para ela que, por sua vez, amava tais presentes. 

No entanto, dizem as más línguas que, certa vez, ao sair de um dos quartos após um programa ela se deparou com um antigo namorado subindo as escadas com uma outra garota de programa. Os dois se olharam por um longo tempo e depois seguiram cada um seu caminho. Talvez, não a tenha percebido ou então simplesmente ignorado. Isso nunca saberemos. O importante é que ela fez seu destino.

- Como assim?
- Foi embora no dia seguinte. Coincidentemente, Daniel nunca mais apareceu no Hotel. Afinal,
Natahsa era a única garota com quem ele transava por lá.
- E como você sabe que ela teve uma segunda chance, que foi feliz?
- Eu não sei, amiga, mas acredito que sim com todo aquele jeito dela. Natasha Sempere era uma
garota livre desde o primeiro minuto em que colocou seus pés nessa calçada. E é erro nosso pensar
que não podemos ser que nem ela.
- Desculpa, mas acho que você tá viajando muito, gata.
- Por quê? 
- Ah, deixa pra lá. E o que isso tem a ver comigo?
- Você tá a fim de levar um tapa?
- Não, calma. Não fica assim comigo. Foi sem querer que eu disse.
Muito emocionada pela história que acabara de contar, Vanessa fica em silêncio e com uma expressão mais fechada. Não quer brigar com sua amiga querida do qual tem tanto carinho e também não quer chorar de saudade pela amiga que se tornou uma inspiração para ela.

Enquanto isso, Rochele reflete sobre toda aquela história e na sua relação com Eduardo. Imagina como seria sua vida se um dia sua amiga fosse embora. Vanessa era mais que uma amiga para ela. Era como uma irmã. Pensando nisso, ela resolve consolar sua amiga. Alisa seus cabelos carinhosamente, dá um beijo na sua bochecha e a abraça bem forte.

- Ruiva, gosto muito de você, viu?
- Obrigado, gatona.Eu também gosto muito de ti, diz ela tentando esconder uma lágrima.
- Obrigado pela história.
- Bom, espero que ela sirva de inspiração para você de algum modo.
- Pode ter certeza que sim. Acho que agora também tenho um pouco dela dentro de mim.





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