Nascida no sul do país,
Rochele se mudou para cidade de São Paulo para tentar uma vida melhor. Amargou
vários meses de desemprego. Passou fome e quase ficou sem lugar para morar
depois que uma tia distante morreu e não deixou nada para ela. Com o tempo, foi
começando a ver vida com menos colorido. O mundo era cruel e dificilmente alguém
desconhecido estenderia a mão pra ela. No entanto, tudo mudou quando ao passear
pelo centro encontrou algumas garotas vestidas com roupas curtas em frente a um
motel. Primeiro, observou cada uma delas. Eram loiras, morenas, ruivas, gordas
e magras. Elas ficavam ali paradas esperando alguém conversar com elas. Os
homens que ali passavam olhavam com malicia e as mulheres com olhar de
reprovação. Alguns paravam e conversam. Às vezes, iam embora e outras
simplesmente subiam junto com alguma das garotas. Por causa de tanto observar,
ela decidiu atravessar a rua e tentar conversar com elas.
- Oi, o que vocês estão
fazendo ai?
Nenhuma delas responde.
- Desculpa, sou nova na
cidade. Tô procurando emprego. Não conheço ninguém e preciso muito de um lugar
para passar a noite. Por favor, alguma de vocês pode me ajudar?
Nisso, uma delas
responde:
- Olha, garota, vai
procurar outro ponto pra você ficar que aqui não tem lugar pra mais ninguém.
- Como assim? Todos os
quartos estão lotados?
- Não, sua imbecil.
- Então, o quê?
- Você não percebeu o
que nós somos?
- Ah...não.
- Idiota. Aqui é tudo
puta, minha filha. Garota de programa. Entendeu agora ou quer que eu faça um
desenho pra você?
A essa altura do campeonato, nenhum insulto
faria mal pra aquela pobre garota que estava sozinha numa cidade que não
conhecia, não tinha dinheiro e nem lugar para morar. Mas, mesmo assim, ela não
chorou.
- Vocês se importam se
eu ficar um pouquinho aqui do lado?
Nesse momento, outra
garota, com uma voz mais calma, responde:
- Olha, a gente não
quer problema por aqui, tá bom? Todo mundo tá tentando ganhar a vida para
tentar ir embora o mais rápido possível, entende?
- Acho que sim.
- Então, vou te ajudar,
mas é só dessa vez, beleza?
- Beleza.
- Vou dar uma saída e
você fica no meu lugar. Se alguém te chamar, você cobra o valor de cada posição
mais a diária do hotel. Desse jeito, ninguém vai reparar que você é nova por
aqui. Eles mal olham pra cara da gente.
- Mas eu nunca fiz isso
antes.
- Você é virgem?
- Não.
- Então, sem problema.
Torce para encontrar um cara legal, tenta curtir um pouco e faça-o gozar
rápido.
- E se eu não
conseguir?
- Bom, você quer
sobreviver, não quer?
E foi assim que Rochele
teve seu primeiro programa. Não foi nada fácil. O cliente não era muito legal.
Ela nunca imaginou que sua primeira vez com um estranho seria tão doloroso. Ao
sair do quarto, ela se depara com a garota que com quem tinha trocado de lugar.
- Oi. Consegui, deu
tudo certo. Não foi muito legal, mas ele pagou em dinheiro.
- Ah, é? Que bom. Deixa
eu ver.
- Hmmm, 250 reais. É
uma grana boa. Me dá aqui.
- Não, peraí, essa
dinheiro é ...
- Não termine essa
frase.
- Mas...
- Mas nada, eu te dei a
oportunidade de trabalhar e não a minha grana. Aprenda uma coisa. Não sou sua
amiga, entendeu? E se falar no dinheiro de novo, teremos que terminar essa
conversa de outro jeito.
Depois de ouvir tais
palavras, Rochele se sente tomada pela surpresa da inesperada traição, mas
aceita com pesar as palavras da sua nova colega de trabalho. Depois desse dia,
as coisas começaram a melhorar. Os clientes se surpreendiam com aquela menina
de jeito tão meigo e corpo tão bonito. Alguns traziam presentes e outros passavam
só pra dar um oi bem rápido, algo que por sua vez deixou basicamente uma grande
das suas colegas com inveja.
Voltando aos dias
atuais....
Meses haviam se passado
desde que Eduardo e Rochele se conheceram. Os programas eram cada vez mais
frequentes. Não havia uma periodicidade especifica, mas ele ia com ela sempre
que possível. O sexo já era tão comum que eles se sentiam cada vez mais a
vontade assim como um casal de namorados. Infelizmente, a vida nunca foi um
conto de fadas para nenhum dos dois. Ela sempre sofria com os clientes mais
grosseiros e ele sempre fora um azarado quando o assunto é relacionamentos. Já
se apaixonara várias vezes, mas nunca tinha sido correspondido. Claro que sua
solidão aparentemente acabou após conhecer seu ``anjo``, nome pelo qual chamava
sua garota de programa favorita.
- Não me chama assim,
querido.
- Por quê?
- Desse jeito, vou
achar que você tá se apaixonando por mim e eu já te disse que não posso me
envolver com ninguém.
- Eu sei, eu entendo,
mas você é tão doce e carinhosa comigo.
- É porque você merece,
fofo.
Nesse momento, a garota
se inclina levemente e dá um rápido beijo, quase um selinho, nos lábios de
Eduardo. Seus seios encostam devagar no corpo dele, o que faz com que seu
coração dê uma acelerada.
- Hmmm, que selinho
gostoso
- Hi hi hi.
- Ai, ai, ai, eu adoro
seu jeito, meu anjo.
- Bom, pelo jeito, vou
ter que me acostumar com você me chamando assim, né?
- Se quiser, eu paro.
- Não, tudo bem, vai,
você pode.
- Posso algo mais?
- Como assim?
- É que, assim, nunca
te contei mas eu sou escritor e...
Antes que Eduardo
termine de falar, Rochele se afasta e diz com uma expressão mais séria:
- Olha, se você andar
falando de mim por ai eu vou atrás de você, viu?
O rapaz, sem graça,
apenas diz:
- Calma, tudo bem. Você pode confiar em mim.
- Olha, gatinho, não
vamos estragar o momento. Logo, logo vai dar o horário da gente sair do quarto.
Lembre-se que você pagou só meia hora hoje comigo.
Eduardo fica em
silêncio e dá um beijo na bochecha dela. Depois começa a se mexer e vai em
direção ao chuveiro. É um banho rápido. Logo em seguida, é a vez dela. Os dois
terminam de se trocar quase que ao mesmo tempo. Ela dá um longo abraço nele e
mais um beijo no rosto. Eles se despedem.
- Bom, você já sabe o caminho, né?
- Sei, valeu. Até.
- Até.
Enquanto anda no
corredor em direção à escada, Eduardo se lembra de uma coisa e dá meia volta
para falar com Rochele:
- Oi, olha, esqueci de
te dar um negócio.
Ele entrega um bilhete
dobrado e com o nome Rochele em letra de forma.
- O que é isso?
pergunta a garota de programa
- É pra você. Tchau
- Tchau.
Depois que ele vai
embora, ela resolve sentar numa cadeira próxima a um dos quartos. Abre o
bilhete e se depara com uma ótima surpresa em forma de poesia:
Meu anjo
Certa vez conheci um
anjo...
Dono de olhos claros
Sua boca tinha formas
suaves
Seu colo era macio como
uma nuvem
Seu perfume cheirava a
carinho amigo
Seus cabelos eram
desenhados e pintados com uma cor de mel
Por isso, na primeira
vista, meus olhos ficaram nublados
talvez confusos,
curiosos
Não conseguiam
acreditar na beleza de tal ser
Pareciam tentar
decifrar sua magia e explicar o impossível
Dizem que anjos não tem
sexo
Em parte, isso é
verdade
Mas nem toda teoria
escapa de ter uma exceção a regra
É o caso dela
Suas formas são tão
femininas
Seus beijos são quentes
Seu carinho é
provocante
Estar com ela é como
adicionar um tempero a sonhos ingênuos
Um gosto de desejo
realizado
Não quero acordar,
quero dormir e sonhar
Sonho colorido, uma
bagunça, tudo distorcido
Nada parece fazer
sentido, mas é tão real que acredito
Meu coração confia em
você
Minhas batidas desejam
tua felicidade
Minhas pulsações
agradecem em tom de música por todos os sorrisos que ganhei por tua causa
Agradeço a cada minuto
ao lado desse ser alado com jeito de menina, doce e meigo misturado a uma
postura de mulher.
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