domingo, 17 de fevereiro de 2013

Capitulo 4 - Asas quebradas





Nascida no sul do país, Rochele se mudou para cidade de São Paulo para tentar uma vida melhor. Amargou vários meses de desemprego. Passou fome e quase ficou sem lugar para morar depois que uma tia distante morreu e não deixou nada para ela. Com o tempo, foi começando a ver vida com menos colorido. O mundo era cruel e dificilmente alguém desconhecido estenderia a mão pra ela. No entanto, tudo mudou quando ao passear pelo centro encontrou algumas garotas vestidas com roupas curtas em frente a um motel. Primeiro, observou cada uma delas. Eram loiras, morenas, ruivas, gordas e magras. Elas ficavam ali paradas esperando alguém conversar com elas. Os homens que ali passavam olhavam com malicia e as mulheres com olhar de reprovação. Alguns paravam e conversam. Às vezes, iam embora e outras simplesmente subiam junto com alguma das garotas. Por causa de tanto observar, ela decidiu atravessar a rua e tentar conversar com elas.

- Oi, o que vocês estão fazendo ai?
Nenhuma delas responde.

- Desculpa, sou nova na cidade. Tô procurando emprego. Não conheço ninguém e preciso muito de um lugar para passar a noite. Por favor, alguma de vocês pode me ajudar?

Nisso, uma delas responde:

- Olha, garota, vai procurar outro ponto pra você ficar que aqui não tem lugar pra mais ninguém.
- Como assim? Todos os quartos estão lotados?
- Não, sua imbecil.
- Então, o quê?
- Você não percebeu o que nós somos?
- Ah...não.
- Idiota. Aqui é tudo puta, minha filha. Garota de programa. Entendeu agora ou quer que eu faça um desenho pra você?

A  essa altura do campeonato, nenhum insulto faria mal pra aquela pobre garota que estava sozinha numa cidade que não conhecia, não tinha dinheiro e nem lugar para morar. Mas, mesmo assim, ela não chorou.

- Vocês se importam se eu ficar um pouquinho aqui do lado?
Nesse momento, outra garota, com uma voz mais calma, responde:
- Olha, a gente não quer problema por aqui, tá bom? Todo mundo tá tentando ganhar a vida para tentar ir embora o mais rápido possível, entende?
- Acho que sim.
- Então, vou te ajudar, mas é só dessa vez, beleza?
- Beleza.
- Vou dar uma saída e você fica no meu lugar. Se alguém te chamar, você cobra o valor de cada posição mais a diária do hotel. Desse jeito, ninguém vai reparar que você é nova por aqui. Eles mal olham pra cara da gente.
- Mas eu nunca fiz isso antes.
- Você é virgem?
- Não.
- Então, sem problema. Torce para encontrar um cara legal, tenta curtir um pouco e faça-o gozar rápido.
- E se eu não conseguir?
- Bom, você quer sobreviver, não quer?

E foi assim que Rochele teve seu primeiro programa. Não foi nada fácil. O cliente não era muito legal. Ela nunca imaginou que sua primeira vez com um estranho seria tão doloroso. Ao sair do quarto, ela se depara com a garota que com quem tinha trocado de lugar.

- Oi. Consegui, deu tudo certo. Não foi muito legal, mas ele pagou em dinheiro.
- Ah, é? Que bom. Deixa eu ver.
- Hmmm, 250 reais. É uma grana boa. Me dá aqui.
- Não, peraí, essa dinheiro é ...
- Não termine essa frase.
- Mas...
- Mas nada, eu te dei a oportunidade de trabalhar e não a minha grana. Aprenda uma coisa. Não sou sua amiga, entendeu? E se falar no dinheiro de novo, teremos que terminar essa conversa de outro jeito.

Depois de ouvir tais palavras, Rochele se sente tomada pela surpresa da inesperada traição, mas aceita com pesar as palavras da sua nova colega de trabalho. Depois desse dia, as coisas começaram a melhorar. Os clientes se surpreendiam com aquela menina de jeito tão meigo e corpo tão bonito. Alguns traziam presentes e outros passavam só pra dar um oi bem rápido, algo que por sua vez deixou basicamente uma grande das suas colegas com inveja.

Voltando aos dias atuais....

Meses haviam se passado desde que Eduardo e Rochele se conheceram. Os programas eram cada vez mais frequentes. Não havia uma periodicidade especifica, mas ele ia com ela sempre que possível. O sexo já era tão comum que eles se sentiam cada vez mais a vontade assim como um casal de namorados. Infelizmente, a vida nunca foi um conto de fadas para nenhum dos dois. Ela sempre sofria com os clientes mais grosseiros e ele sempre fora um azarado quando o assunto é relacionamentos. Já se apaixonara várias vezes, mas nunca tinha sido correspondido. Claro que sua solidão aparentemente acabou após conhecer seu ``anjo``, nome pelo qual chamava sua garota de programa favorita.

- Não me chama assim, querido.
- Por quê?
- Desse jeito, vou achar que você tá se apaixonando por mim e eu já te disse que não posso me envolver com ninguém.
- Eu sei, eu entendo, mas você é tão doce e carinhosa comigo.
- É porque você merece, fofo.
Nesse momento, a garota se inclina levemente e dá um rápido beijo, quase um selinho, nos lábios de Eduardo. Seus seios encostam devagar no corpo dele, o que faz com que seu coração dê uma acelerada. 
- Hmmm, que selinho gostoso
- Hi hi hi.
- Ai, ai, ai, eu adoro seu jeito, meu anjo.
- Bom, pelo jeito, vou ter que me acostumar com você me chamando assim, né?
- Se quiser, eu paro.
- Não, tudo bem, vai, você pode.
- Posso algo mais?
- Como assim?
- É que, assim, nunca te contei mas eu sou escritor e...

Antes que Eduardo termine de falar, Rochele se afasta e diz com uma expressão mais séria:

- Olha, se você andar falando de mim por ai eu vou atrás de você, viu?
O rapaz, sem graça, apenas diz:
- Calma,  tudo bem. Você pode confiar em mim.
- Olha, gatinho, não vamos estragar o momento. Logo, logo vai dar o horário da gente sair do quarto. Lembre-se que você pagou só meia hora hoje comigo.

Eduardo fica em silêncio e dá um beijo na bochecha dela. Depois começa a se mexer e vai em direção ao chuveiro. É um banho rápido. Logo em seguida, é a vez dela. Os dois terminam de se trocar quase que ao mesmo tempo. Ela dá um longo abraço nele e mais um beijo no rosto. Eles se despedem.

- Bom,  você já sabe o caminho, né?
- Sei, valeu. Até.
- Até.

Enquanto anda no corredor em direção à escada, Eduardo se lembra de uma coisa e dá meia volta para falar com Rochele:

- Oi, olha, esqueci de te dar um negócio.
Ele entrega um bilhete dobrado e com o nome Rochele em letra de forma.
- O que é isso? pergunta a garota de programa
- É pra você. Tchau
- Tchau.

Depois que ele vai embora, ela resolve sentar numa cadeira próxima a um dos quartos. Abre o bilhete e se depara com uma ótima surpresa em forma de poesia:



Meu anjo

Certa vez conheci um anjo...
Dono de olhos claros
Sua boca tinha formas suaves
Seu colo era macio como uma nuvem
Seu perfume cheirava a carinho amigo
Seus cabelos eram desenhados e pintados com uma cor de mel

Por isso, na primeira vista, meus olhos ficaram nublados
talvez confusos, curiosos
Não conseguiam acreditar na beleza de tal ser
Pareciam tentar decifrar sua magia e explicar o impossível

Dizem que anjos não tem sexo
Em parte, isso é verdade
Mas nem toda teoria escapa de ter uma exceção a regra
É o caso dela
Suas formas são tão femininas
Seus beijos são quentes
Seu carinho é provocante

Estar com ela é como adicionar um tempero a sonhos ingênuos
Um gosto de desejo realizado
Não quero acordar, quero dormir e sonhar
Sonho colorido, uma bagunça, tudo distorcido
Nada parece fazer sentido, mas é tão real que acredito

Meu coração confia em você
Minhas batidas desejam tua felicidade
Minhas pulsações agradecem em tom de música por todos os sorrisos que ganhei por tua causa
Agradeço a cada minuto ao lado desse ser alado com jeito de menina, doce e meigo misturado a uma postura de mulher.


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