terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

CAPITULO 3: Livre para sonhar?



O dia anterior havia sido muito produtivo para todas as garotas do Hotel Central. E isso era sempre motivo de comemoração para cada uma daquelas meninas que raramente faziam planos para o futuro. Rochele, por exemplo, sempre manteve vivo o sonho de se ver livre daquele mundo do qual fazia parte. Tinha uma conta no banco e sempre depositava o dinheiro que sobrava no final do mês e vivia olhando o classificado de empregos com o intuito de encontrar algo melhor. Às vezes até encontrava, mas sempre havia o questionamento de trocar o certo pelo duvidoso.

Nessas horas, ela se lembra do rosto de Eduardo. E também de suas palavras. Ou melhor, da rápida conversa que tiveram sobre o futuro. Mesmo não podendo admitir publicamente, ela torcia para que ele voltasse o quanto antes. Queria conversar. Queria ouvi-lo dizer que ela podia ter um futuro e, talvez, relembrar o significado da palavra esperança. Infelizmente, não há tempo pra sonhar enquanto se está trabalhando.

O tempo é curto até mesmo pra se pensar nele. E aos poucos, chega a hora de todas as garotas descerem as escadas e ficar esperando nos seus pontos até chegar alguém que as faça subir de volta rumo a um quarto. Era sexta-feira, o melhor dia da semana para os negócios e o mais arriscado também por causa do tipo de cliente que aparecia entre os horários do meio-dia e duas da tarde. O movimento de pessoas a procura das garotas era grande e quase não havia descanso pois sempre tinha alguém esperando por cada uma delas. Depois das seis, então, era pior ainda.

Rochele tinha medo. Mesmo com toda sua experiência, nunca havia se acostumado a fazer tanto sexo em tão pouco tempo durante um dia. Certa vez, ela foi surpreendida na saída do seu quarto por um trio de irmãos que trabalhavam juntos num escritório de advocacia ali perto. Os três a queriam ao mesmo tempo. Sem oferecer resistência, ela aceitou o programa com o trio. Eles se divertiram. Ela odiou cada minuto, mas, apesar de tudo, ganhou uma boa grana.

Minutos depois, sozinha, debaixo do chuveiro ela se viu com vontade de chorar. Queria fugir, ter pelo menos um dia de folga. Afinal de contas, vida era dura e parecia não melhorar. Por esse motivo, ela procurava refúgio na ficção. Gostava muito de livros como Crepúsculo e filmes de comédia como Se Beber, Não Case, por exemplo. Considerava o cinema e a literatura seus melhores amigos já que muitas de suas colegas de trabalho não gostavam dela. Algumas dificilmente davam bom dia e outras se recusavam a dar qualquer tipo de conselho.

Ela não sabia, mas era alvo de inveja. Felizmente, como toda regra tem sua exceção, havia uma garota que gostava dela. Às vezes, até demais. Seu nome era Vanessa. Ruiva, de seios fartos, cabelos curtos e pernas finas. Tinha como fama surpreender os clientes com idéias que iam muito além do esperado e se considerava muito experiente. Quase uma professora. Ao entrar no quarto e perceber que não havia nenhum cliente, começou a assobiar baixinho até encontrar Rochele distraída debaixo do chuveiro. Sem pensar duas vezes, tirou a pouca roupa que usava e andou em direção a sua amiga.

- Oi linda, tudo bem?
- É, acho que sim.
- Que foi?
- Nada.
- Sei.
- Sabe, to cansada dessa vida.
- É chato ser gostosa, né? rs
- Olha só quem fala.

Vanessa estende as mãos e ajuda Rochele a se levantar. Fica um minuto examinando aquele olhar cabisbaixo e depois acaricia seu rosto. As duas se abraçam por alguns segundos. A ruiva se afasta um pouco e olha com muita atenção nos olhos de sua amiga. Nesse momento, não se percebe mais a cumplicidade tão implícita daquela amizade. Em seu lugar, um olhar de desejo misturado com carinho que logo se desfaz quando elas se beijam. Os corpos se encontram e o calor aumenta. Não se sabe se é pelo chuveiro ligado há tanto tempo ou pela sensualidade daquele encontro entre corpos.

De repente, Rochele toma um susto ao perceber o que estava acontecendo e se afasta. Mesmo excitada, ela nega suas ações durante aquele breve momento. E ainda por cima, pede desculpas.

- Olha, não quero te magoar.
- Tudo bem.
- Mesmo?
- Sim.
- Olha, eu sempre curti você. Não vou negar isso. Se tem algo que minha experiência de vida me ensinou é que o desejo aumenta quando se tenta negar algo assim. Um dia você vai querer experimentar isso e eu estarei te esperando.
- Pode ser.
- Olha, garota, você precisa aprender a se divertir.
- Como? Todo dia é sempre a mesma coisa. A única coisa que compensa é o dinheiro, pois o prazer é tão raro quanto uma nota de cem reais.
- Talvez se você se permitisse tentar coisas novas.
- Como, por exemplo...
-  Sair um pouco e tentar uma vida normal de vez em quando.
- Eu adoraria pelo menos sonhar com isso, mas não posso. Nenhuma de nós pode. Acho até uma ironia trabalharmos numa avenida chamada esperança. Eu mesma não espero mais nada da vida.
- Você pode se surpreender.
- É mesmo? E porque você nunca tentou seguir esse conselho?
- Simples, gatinha. Diferente de você, eu curto o que eu faço. Pode me chamar do que quiser, mas acho tudo muito divertido.
- Hmmmm...  


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